Entrevista dada a jornalista Cláudia Visoni para a Allianz. A Allianz é uma multinacional de origem alemã que promove muito intercâmbio de informações e pessoas pelo mundo. A língua oficial da empresa é o inglês, então teoricamente todo mundo precisa saber se comunicar na língua. Boa parte das pessoas é fluente e mais gente ainda está a caminho de ser. A ideia da matéria é ajudar as pessoas a fazer melhor uso dos recursos de aprendizado que procuram e esclarecer alguns conceitos.
1 - Quais são as principais características das boas escolas e bons métodos de ensino de inglês?
As boas escolas são as que possuem os professores com a melhor formação e maior conhecimento sobre metodologia de ensino e estilo de aprendizagem do inglês. Por mais que vivamos em uma era "pós-métodos", como alguns preferem defender, só somos capazes de identificar o aluno, seu estilo de aprendizagem, a melhor abordagem e se funciona ou não, e o porquê da eficiência, com base em uma formação sólida em tipos de métodos e estilos de aprendizagem. Somente, conhecendo-se bem as diferentes metodologias, métodos e abordagens é possível se desvincular dos métodos e avaliar o que cada indivíduo necessita. É somente através do conhecimento que podemos transgredir as receitas, e nos livrarmos das amarras dos métodos e metodologias. É comum profissionais que defendem essa liberdade não possuírem tal conhecimento, e seguirem uma fórmula baseada na “escola de pensamento da vez” fantasiada de “livre de métodos”. Há também uma outra questão, normalmente negligenciada pelas escolas e coordenadores em geral: questões de aquisição de uma segunda língua. É de suma importância que um bom professor, com uma boa formação e um sólido conhecimento sobre diferentes metodologias também conheça os processos psicolingüísticos envolvidos na aquisição. Para tal, uma formação lingüística, além de pedagógica é importante. Isso só é possível se a escola tiver bons professores sob uma boa coordenação.
2 – Quais os indícios de que um curso não está dando resultado e é melhor procurar outra alternativa para aprender inglês?
O melhor termômetro é, primeiramente, se você sente estar aprendendo, se gosta de ir à aula. Nem sempre é divertido, mas você tem que sentir que funciona. Muitas vezes, não aprendemos uma língua por estarmos em uma situação em que a “metodologia” da escola não é compatível com nosso estilo de aprendizagem. O leigo não consegue identificar isso, e muitas vezes nem o professor, e o aprendiz acaba por se sentir incapaz de aprender, enquanto o professor acredita que o aluno “não aprende”. Só um professor capacitado com as qualidades que mencionei na primeira pergunta é capaz de identificar essa incompatibilidade e redirecionar o aluno. Algumas pessoas aprendem melhor com um professor individual, outros em grupo. Outros ainda em uma abordagem mais tradicional. Outros, mais desinibidos, se dão bem em uma escola que valoriza as práticas sociais. Portanto, não se deve levar à risca a indicação de “abordagem da vez”.
3 – Quais são as suas dicas para fazer o inglês “deslanchar” nas viagens ao exterior?
Primeiramente, estar no chamado nível intermediário ou avançado. Fica difícil “penetrar” a língua sem ter um vocabulário básico e boas noções de funcionamento da língua. Não viaje com alguém que fala inglês melhor que você, você ficará à sombra dessa pessoa. O último, e mais importante, fuja de pessoas que falam sua língua nativa. Lembre-se de que de onde você vem, todo mundo fala sua língua. Não há a menor necessidade de viajar tanto e gastar uma fortuna para praticar português. Para quem vai para fora buscando um curso de línguas, fica a dica: se seu nível for intermediário ou superior, procure um curso de culinária, fotografia, paisagismo, design gráfico ou qualquer outro, menos de inglês. O Brasil é um país que tem excelência (reconhecida) no ensino de inglês. Dificilmente você vai encontrar uma escola no exterior que ofereça condições melhores que os bons institutos brasileiros. Além disso, seus colegas de classe serão estrangeiros que falarão inglês com sotaque igual ou pior que você. Nos cursos que eu mencionei, você terá aula com nativos (colegas e professores) e sua exposição à língua aumentará consideravelmente.
4 – Além de ter aulas, quais outras atitudes cotidianas podem facilitar o aprendizado do inglês?
Recomendo ler em inglês, assistir filmes com legendas em inglês e tentar se expor ao máximo à língua. Tentar conversar com pessoas que você sabe que falam melhor que você também ajuda. No entanto, qualquer dica vai por água abaixo sem se considerar as características individuais do aprendiz. Alguns brasileiros não se sentem bem em conversar com outros brasileiros em inglês. Tinha uma amiga, que dava aulas de inglês, e ela tinha três gravadores estrategicamente posicionados na sua casa. Onde quer que fosse ligava um “áudio-book” para ficar ouvindo a língua e se expor ao máximo à melodia e cadência do inglês. A melhor dica é fazer o que você acredita que funciona para você, mesmo que seja ouvir sua música favorita no “youtube” na versão Karaokê.
5 – O que fazer para superar o bloqueio na hora de falar quando a compreensão oral já é quase completa?
Novamente, não há uma fórmula para isso. Acho que viajar, considerando-se as sugestões acima e as dicas de como se expor mais à língua ajudam muito. Vários dos bloqueios não são de cunho lingüístico, mas psicológico. Algumas pessoas não se identificam com a língua e se sentem “ridículos” falando um outro idioma. São barreiras que o aprendiz deve superar, mesmo que seja com ajuda de terapia. O simples fato de entender o que é falado, ler e escrever, sem conseguir falar é indício suficiente que a língua foi aprendida. Portanto, o bloqueio não advém da incapacidade lingüística do indivíduo, mas de sua auto-imagem ou qualquer outro impedimento que está fora da capacidade da linguagem.
6 - É possível se tornar bilíngue mesmo começando a estudar inglês depois de adulto?
Sim. Há atualmente no Brasil uma confusão enorme sobre o termo “bilíngüe”. O termo bilíngüe refere-se a qualquer pessoa que tem comando (intermediário ou avançado) de um idioma. Interessantemente, uma criança que cresce falando duas línguas simultaneamente também é dita bilíngüe. A diferença entre o primeira definição e a segunda é que o adulto é chamado de bilíngüe consecutivo (aquele que aprende primeiramente a língua materna e posteriormente uma outra língua e possuirá sotaque, limitação de vocabulário e limitação intuitiva sobre julgamentos gramaticais, referentes à aceitabilidade de sentenças na língua aprendida), enquanto que a criança que cresce falando duas línguas é um bilíngüe simultâneo, como se possuísse duas línguas maternas. Sim, embora de tipos diferentes, ambos são bilíngües.
7 – Por que é mais fácil para as crianças aprender inglês?
Digamos que a criança está numa fase de desenvolvimento em que seu organismo se movimenta no sentido de adquirir a língua. Por volta de três anos e meio a estrutura lingüística de uma criança já está formada. Faz parte da programação biológica do ser humano desenvolver linguagem para interagir com o mundo. A criança está desenvolvendo a linguagem como está desenvolvendo outras funções. Após a sedimentação e aquisição completa de sua primeira língua, tal função parece estar cada vez menos disponível; sendo assim, o processo é cada vez mais difícil com o passar dos anos.
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